Uma pausa

Mulheres fortes

Mulheres Fortes por Danuza Leão

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Ah, como deve ser boa a vida das
mulheres frágeis!……
Elas sempre têm alguém que carregue os embrulhos,
preencha o Imposto de Renda, troque o pneu do carro, e por aí vai.

As fortes fazem tudo sozinhas,
e são sempre chamadas nas horas do aperto:
Elas agüentam qualquer tranco, e são tão fortes que se metem
até  mesmo onde não são chamadas,
para ajudar a resolver os problemas dos outros.

Elas acreditam no personagem, veja só!
É dura a vida das fortes, que não são poupadas de nada!

Se alguém está com uma doença grave, é a elas que vão contar;
se a namorada do sobrinho ficou grávida, são as primeiras a saber,
e quando alguém da família é preso com uma trouxinha de maconha,
são imediatamente chamadas para as providências de praxe…
fora os problemas financeiros, é claro.

Enquanto isso, os pais e mães desses jovens adoráveis estão tomando
uma vodca na beira da piscina sem saber de nada…

eles não agüentariam um choque desses e precisam ser
poupados, porque são frágeis.

Existe sempre alguém para cuidar dos frágeis,

seja um parente, um amigo, até um vizinho,
que bate na porta preocupado com o silêncio
e para saber se ela está precisando de alguma coisa.

Uma mulher frágil
é mais frágil que um recém-nascido,e como
os homens adoram o papel de protetores
para se sentirem fortes e poderosos,
é a união perfeita da fome com a vontade de comer.

Quando elas ficam doentes,
um verdadeiro exército é mobilizado; um leva revistas,
o outro um embrulhinho com pêras, maçãs e uvas,
e se ela não tem empregada não falta quem vá para a cozinha
fazer uma canjinha.
Preste atenção que vai perceber
que essas mulheres frágeis são indestrutíveis.

As fortes, na hora de uma crise de coluna,
se arrastam até a geladeira para pegar um
copo de água, e se alimentam
o fim de semana inteiro com uma barra de chocolate,
pois ninguém telefona para saber se precisam de alguma coisa.

E elas, verdade seja dita, preferem morrer de inanição a pedir
socorro, para não cair o tipo.

Há uma pesquisa a ser feita:
uma mulher frágil nasce frágil ou
escolhe essa profissão para se dar bem na vida?

Por que elas se dão bem,
e sempre encontram um homem
talvez ainda mais frágil do que elas
para cuidá-las, acarinhá-las e cuidar
para que nada as atinja, nunca?

Afinal ela é tão frágil, coitadinha.
Enquanto isso as fortes se acabam de trabalhar,
e são elas que saem dos supermercados com pacotes de compras

sem que ninguém se proponha a dar uma ajuda, mesmo que modesta.

Somos todos estimulados a ser fortes,
mas boa vida mesmo levam as frágeis, daí a dúvida:
não seria melhor que as mães, os pais e os colégios ensinassem as crianças
a ser frágeis, pois sempre haverá alguém para cuidar delas pela vida toda?

E aliás, qual a vantagem de ser forte,
além de saber que um dia alguém se
referiu a ela dizendo “aquela é uma mulher forte”?

Um grande elogio, é verdade. Mas e daí?

Toda mulher forte tem desejos secretos
que não conta nem a seu travesseiro:
que alguém, e não é preciso
que seja um homem
faça um gesto por ela, de vez em quando.

Nada de muito importante; apenas um cuidado,
do tipo dizer que a está achando pálida,
perguntar se tem se alimentado direito,
pegar pelo braço e levar para tomar
uma vitamina bem forte.

Sabe qual é o sonho dourado de uma mulher forte?
Ter uma gripe com 38º de febre e poder ficar na cama.

Mas para ela até ter uma gripe é difícil, pois uma mulher forte não adoece;
e se isso acontecer, o mais difícil vai ser receber ajuda,
pois uma mulher forte não
deixa que ninguém faça nada por ela,
mesmo precisando desesperadamente, para
não passar por frágil.

E é capaz de preferir se deixar morrer de tristeza,
solidão e sofrimento a pedir socorro seja a quem for.

Como são frágeis, as fortes!…

SobreCaubi

Paulista de sotaque e raízes caipiras. Aquariana, corinthiana, administradora, louca das plantas, eterna romântica e dona de casa amante de panos de prato, potinhos e canecas. Um pouco fotógrafa, aprendiz de escritora, cozinheira em evolução, artesã nas horas vagas e sempre otimista. Dramática e criativa, atravessando os 30 com histórias [quase] normais.

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